Os 199,8 quilómetros, com início em Assen e final com seis votas ao circuito do Col du Vam, foram sempre disputados a alta velocidade - média final de 46,857 km/h. Uma fuga de cinco corredores marcou o compasso durante grande parte da prova, obrigando as seleções da Bélgica e da Dinamarca a trabalhar no pelotão para não deixar a margem ir além dos dois minutos.
Na entrada para o circuito a diferença era inferior a meio minuto e a fuga ficaria reduzida a três elementos, que apenas seriam alcançados a cerca de 30 quilómetros – pouco mais de duas voltas – do final. Nesta fase o trabalho dos corredores portugueses foi bem sucedido, mantendo-se no pelotão, sempre com Nelson Oliveira e Ivo Oliveira bem colocados, mesmo com um furo do gaiense a atrapalhar os planos.
Na antepenúltima passagem pela meta, no planalto após o topo que sucedia à linha de meta, uma aceleração de Filippo Ganna deixou o pelotão em pedaços e um grupo reduzido na dianteira. Esse grupo ficaria ainda mais pequeno quando o italiano caiu juntamente com alguns corredores.
Dez ciclistas passaram, então, a formar a cabeça de corrida, perseguidos por um grupo com cerca de 20 elementos onde estavam Nelson Oliveira, sempre muito ativo na perseguição, e Ivo Oliveira.
A situação manteve-se assim até faltarem dez quilómetros para a chegada, altura em que Christophe Laporte atacou para entrar isolado na última passagem pelo Col du Vam, onde o belga Arnaud de Lie acelerou com o compatriota Wout van Aert e com o neerlandês Olav Kooij na roda.
Na última rampa antes da meta, Laporte foi alcançado, mas ainda logrou o título europeu. Wout van Aert e Olav Kooij chegaram imediatamente a seguir, formando mais um pódio totalmente composto por homens da Jumbo-Visma.

Sempre batalhador, Nelson Oliveira deu o máximo até à meta para terminar na 18.ª posição, a 49 segundos. “Foi uma corrida bastante dura. Era um percurso técnico, com algum vento, obrigando a uma boa colocação. O circuito era muito explosivo, o que não nos ajudava muito, mas fizemos o nosso melhor e deixámos tudo na estrada. Na fase final tentei estar na frente e fazer um bom resultado para a Seleção”, afirmou o anadiense.
Ivo Oliveira terminou no 34.º lugar, a 3m25s, lamentando as energias gastas para chegar ao pelotão e recolocar-se no grupo após o furo na roda da frente. “Foi das corridas mais duras que já fiz. Tive um furo na segunda volta do circuito, perdi algum tempo, tive de reentrar no pelotão e demorei duas ou três voltas a chegar às posições da frente. Isso custou-me a força que teria dado para chegar no grupo da frente”, lamenta o corredor.
André Carvalho chegou na 57.ª posição, a 6m24s, e João Matias foi 85.º, a 8m31s. Iúri Leitão não terminou. O minhoto já vinha a sentir algumas dificuldades, mas uma saída de corrente na terceira passagem pela subida de empedrado fez com que o português não mais reentrasse no pelotão, o que levou ao abandono.
Maria Martins termina prova de fundo em jornada de grande sofrimento
Maria Martins cumpriu o objetivo estabelecido pelo selecionador nacional para a prova de fundo, ou seja... terminar. Os 131,3 quilómetros tiveram duas fases. Até à entrada na primeira das seis subidas ao Col du Vam praticamente não houve ataques. A passagem pela ascensão de acesso à meta foi sendo aproveitada pelas equipas mais fortes para endurecer o ritmo e fazer alguma seleção.
Maria Martins cumpriu à risca a estratégia. Soube colocar-se bem e defendeu-se o melhor possível a cada subida. “Sabia que tinha de sofrer muito numa subida como esta. Mas entreguei tudo o que tinha”, garante a corredora. A representante de Portugal explicou que “a primeira subida fez-se em ritmo forte, mas as duas seguintes foram mais moderadas. Na quarta passagem surgiram os ataques”.

Foi nessa altura que Maria Martins descolou, completando duas voltas atrasada, com grande espírito de resiliência. “O que a Maria aqui fez hoje foi de grande heroicidade, porque não sendo um circuito à sua medida, entregou-se totalmente”, afirma o selecionador nacional, José Luis Algarra.
Maria Martins foi a última a cortar a meta, na 71.ª posição, a 9m40s da neerlandesa Mischa Bredewold, que venceu isolada. A decisão aconteceu na última volta ao circuito. A corredora da equipa da casa atacou e ficou sozinha em cabeça de corrida. Atrás houve excessivo calculismo. Ninguém quis assumir a perseguição, com as corredoras a olharem-se mutuamente, e a vantagem da fugitiva rapidamente se aproximou do meio minuto. Quando se acelerou atrás já era tarde e a medalha de ouro estava entregue.
Na luta pela medalha de prata, a neerlandesa Lorena Wiebes suplantou a campeã mundial, a belga Lotte Kopecky, chegando ambas a quatro segundos da extenuada vencedora, que, não fosse a apatia inicial na perseguição, teria dificuldades para conseguir o título europeu.
Marta Carvalho termina prova de juniores no 34º lugar
Na categoria de juniores femininas, Marta Carvalho estreou-se da melhor forma em Campeonatos da Europa de Estrada, conseguindo manter-se até final no grupo da frente da prova de fundo, terminando na 34.ª posição.
Os 69 quilómetros, disputados integralmente no circuito em redor do Col du Vam, que foi coberto cinco vezes, começaram em grande velocidade, fazendo-se uma primeira seleção nas primeiras duas voltas. Assistiu-se depois a alguma acalmia, que anunciava o que estava para vir: uma volta final em grande velocidade, que partiu o pelotão em três grupos.

Portugal apresentou-se com duas corredoras que nunca tinham competido em Europeus de Estrada, embora Raquel Dias tenha já corrido e terminado o Mundial, no mês passado. A mais experiente Marta Carvalho foi a corredora que se adaptou melhor às dificuldades, conseguindo estar sempre bem colocada e demonstrando capacidade de resposta às mudanças de ritmo impostas pelas seleções mais fortes.
Raquel Dias teve de apelar ao espírito guerreiro. Sofrendo a cada passagem pela subida do Col do Vam, foi encontrando forças para reentrar no pelotão final, só descolando definitivamente à entrada para a volta final, no momento em que se fez a seleção definitiva das corredoras que iriam discutir o título.
Com Marta Carvalho sempre atenta, no seio do pelotão, a corrida definiu-se no segmento de empedrado da subida para a meta. A belga Fleur Moors e a italiana Federica Venturelli destacaram-se ligeiramente. Foi o suficiente para que a medalha de prata ficasse decidida num sprint entre ambas, com superioridade da representante de Bélgica, creditada com menos três segundos do que a rival. A terceira classificada, a sete segundos, foi a francesa Léne Tabu.
Marta Carvalho chegou integrada no primeiro pelotão, finalizando na 34.ª posição, a 25 segundos. Raquel Dias terminou no 77.º lugar, a 3m13.
“As sensações não foram as melhores. As pernas estavam um bocado cansadas, mas consegui acompanhar sempre o grupo da frente e estou muito feliz com este resultado. A principal dificuldade era a subida, onde as adversárias impõem um ritmo bom, mas nas descidas elas sabem que também podem fazer diferença e também arriscavam tudo. Este desempenho é motivador e para o ano vamos continuar a trabalhar para evoluir e obter bons resultados”, reagiu Marta Carvalho após a corrida.
Tiago Santos foi o resistente português na prova de juniores
O pelotão júnior completou 111 quilómetros, resultantes de oito voltas ao circuito. Como é habitual nos juniores, a corrida começou a grande velocidade, com o pelotão a rodar completamente estirado desde o quilómetro inicial, em plena subida do Col du Van.
Nestas circunstâncias, a colocação é fundamental e o posicionamento de partida determinante. Os corredores portugueses partiram na parte de trás do pelotão – ordem determinada por ranking -. Isto obrigou a um esforço do quarteto nacional para conquistar um lugar mais confortável dentro do pelotão.
Tiago Santos foi aquele que conseguiu completar com mais sucesso a tarefa, mantendo-se no primeiro terço do pelotão desde o começo, o que viria a revelar-se essencial, dado que cedo começou a assistir-se a uma corrida de eliminação.
José Miguel Moreira descolou muito cedo, devido a uma indisposição momentos antes da partida, abandonando a prova. Já Daniel Moreira e Manuel Marques ficaram para trás na sequência das quedas que se sucederam no pelotão. Tendo escapado aos incidentes, ficaram em “cortes” no pelotão, não sendo possível reentrar, o que levou também ao abandono de ambos.
Numa prova em que as tentativas de fuga foram controladas com pulso de ferro pelas seleções mais fortes, percebeu-se que a discussão dos primeiros lugares seria feita a partir do pelotão, onde Tiago Santos se manteve, bem colocado, durante toda a corrida.
Na última subida ao Col du Van, Anze Ravbar, da Eslovénia, destacou-se ligeiramente e conseguiu uma pequena margem, que lhe deu o título europeu de juniores. Dois segundos depois chegou a cabeça do pelotão, com o francês Matys Grisel a ficar com a medalha de prata e o esloveno Zak Erzen a celebrar o bronze e o ouro do compatriota.

Tiago Santos perdeu algumas posições nas últimas centenas de metros, devido a uma queda de um ciclista espanhol, que segmentou o pelotão. O português concluiu a prova no 41.º lugar, a 20 segundos do vencedor.
“Estou muito satisfeito com a minha corrida. A subida não fazia tanta diferença quanto pensei à partida. A maior dificuldade e o segredo para um bom resultado era a colocação, nada fácil neste percurso rápido, perante atletas muito mais pesados. Mas hoje senti-me bem e julgo até que poderia conseguir um melhor resultado. Mas saio daqui motivado para a próxima época”, reagiu o corredor, que, em 2024, fará a estreia na categoria de sub-23.