A corrida masculina começou com uma queda coletiva na primeira curva. Entre os portugueses apenas Diogo Neves conseguiu a colocação certa para passar incólume este acidente, que deixou o caminho tapado para quem seguia mais atrás.
Era um indício de uma tarde de qualidade do corredor nacional. Diogo Neves fez uma prova usando as pernas e a cabeça, tendo a frieza necessária para ir regulando o esforço em prol de um bom resultado.
“Foi uma corrida muito dura, sempre a tentar ganhar lugares, de início ao fim, mas sem abusar. Sabia que tinha de gerir bem para não ter uma quebra muito forte. Foi uma corrida espectacular, a ultrapassar adversários ao longo de toda a prova. Tendo partido muito atrás, o objetivo era conseguir o top 20, numa competição de grande exigência, com adversários fortes e num dia de muito calor”, descreveu Diogo Neves.

A estratégia de corrida foi aplicada com rigor. Diogo Neves começou por estabilizar uma posição de corrida entre o 26.º e o 28.º lugares. No início da segunda metade da corrida conseguiu subir para a 22.ª posição, que ocupou durante uma parte significativa da prova. A correta gestão das capacidades permitiu a Diogo Neves entrar para a última volta na vigésima posição e ainda ganhar um lugar na fase final.
O melhor elemento da Seleção portuguesa acabou no 19.º lugar, gastando mais 3m33s do que o francês Adrien Boichis, que venceu isolado. João Cruz, 30.º, a 5m10s do primeiro, foi o segundo melhor elemento de Portugal, prejudicado por um furo na roda da frente. Seguiram-se Artur Mendonça, 33.º, a 6m52s, Tomás Frazão, 44.º, a 8m55s, e Alexandre Gonçalves, a duas voltas do vencedor.
A luta juntou na frente de corrida, logo na fase inicial, um grupo de quatro corredores: Adrien Boichis (França), Dario Lillo (Suíça), Charlie Aldridge (Grã-Bretanha) e Tobias Lillelund (Dinamarca). O nórdico foi o primeiro a descolar. Seguindo-se, a duas voltas do fim, o britânico. Na volta final Adrien Boichis atacou e não teve resposta de Dario Lillo, ganhando com 10 segundos de vantagem sobre o suíço. Charlie Aldridge fechou o pódio, a 33 segundos.

Depois de um bom desempenho na prova da Taça do Mundo, realizada em Itália, no último domingo, Ana Santos entrou ambiciosa na corrida deste domingo para sub-23 femininas. Foi, tal como todo o pelotão, obrigada a ir ao choque, num arranque de prova muito forte, por via de uma frente de corrida que acelerou nas pedaladas iniciais. A portuguesa cedo estabilizou no grupo que discutia o fecho do top 15.
A corredora portuguesa permaneceu nesse posicionamento até à entrada na segunda metade da prova, altura em que cedeu algum terreno para as adversárias mais próximas. Entrou na última volta no 19.º lugar e fechou a corrida na vigésima posição. Ana Santos ficou a 6m27s da vencedora, a dinamarquesa Sofie Pedersen.

A ciclista nórdica pedalou num registo à parte das demais participantes. Arrancou na primeira volta e foi aumentando a diferença para as perseguidoras. Conquistou o título europeu com 1m36s de vantagem sobre a segunda classificada, a suíça Ronja Blöchlinger. A terceira foi outra helvética, Noëlle Buri, a 2m03s da vencedora.

“Entramos numa corrida sempre para ganhar, mas, acima de tudo, para darmos o nosso melhor. Foi o que fiz hoje. Acabei esta prova com as lágrimas nos olhos, porque no ano passado gostava de ter feito o que fiz hoje e, então, não foi possível. Poder agora participar num Campeonato da Europa em Portugal significa muito para mim”, confessou a corredora, que, em 2022, esteve presente no Europeu como “speaker”, uma vez que um problema de saúde impediu-a de competir durante alguns meses.
JÚNIORES LUSOS TAMBÉM EM DESTAQUE
O português Rafael Sousa conseguiu a sexta posição na prova de XCO para juniores masculinos e Beatriz Guerra, no primeiro ano como júnior, teve uma estreia auspiciosa, terminando na 21.ª posição.
Sousa fez uma corrida em crescendo. Rodou nas primeiras voltas a fechar os dez melhores, mas foi progredindo na corrida, incentivado pelo público português. Foi avançando de grupo em grupo para fechar a prova no melhor lugar que ocupou em pista ao longo de toda a corrida. Foi sexto, mas a forma como correu, gerindo bem a capacidade física, fez com que ficasse apenas a 26 segundos da medalha de prata.
O dinamarquês Withen Philipsen apresentou-se num patamar inacessível para a restante concorrência. Isolou-se à entrada na terceira das sete voltas e pedalou em solitário para cortar a meta com 54 segundos de vantagem sobre o segundo classificado, o neerlandês Freek Bouten. O terceiro, com mais 58 segundos do que o vencedor, foi o norueguês Sivert Ekroll.
“Trabalhei para conseguir este resultado. Sonhava com um desempenho assim, mas não sabia se seria possível. Mas o apoio do público foi incrível. Sem este incentivo não teria conseguido”, salientou o corredor nacional.

Na lista de corredores portugueses em prova, todos a terminarem na volta do vencedor, seguiram-se Guilherme Barros, 32.º, a 5m02s, Tomás Gaspar, 45.º, a 6m32s, João Fonseca, 47.º, a 7m03s, Rodrigo Araújo, 48.º, a 7m15s, Lucas Ferreira, 55.º, a 8m52s, Duarte Galvão, 58.º, a 9m59s, e Eduardo Rodrigues, 60.º, a 10m27s.
Durante a tarde de sábado disputou-se a prova feminina de juniores, com mais um bom desempenho para Portugal. Beatriz Guerra, júnior de primeiro ano, teve uma estreia auspiciosa em Campeonatos da Europa. Fez uma prova de grande autocontrolo, gerindo as forças e ganhando posições com o decorrer da competição.
Na primeira volta colocou-se na 30.ª posição. Na segunda das cinco voltas progrediu até à 24.ª posição. Fez grande parte da prova nessa posição, mas na volta final ganhou novo fôlego e cresceu dentro da prova para cortar a meta no 21.º lugar, a 5m26s da vencedora, a italiana Valentina Corvi.
"Foi uma corrida sempre 'à morte', não deu para descansar um momento que fosse. Sei que tenho de melhorar alguns pormenores, mas já penso nas próximas provas e em fazer melhor", disse Beatriz Guerra depois da prova.

A decisão da corrida manteve-se em aberto até às pedaladas finais. Valentina Corvi, Carla Hahn (Alemanha) e Katrin Embacher (Áustria) entraram sozinhas na última volta. A italiana e a alemã destacaram-se e discutiram a corrida ao sprint. Valentina Corvi venceu com 1 segundo de vantagem sobre Carla Hahn. Katrin Embacher fechou o pódio, a 14 segundos.
O selecionador nacional, Pedro Vigário, ficou satisfeito com a forma como decorreu a jornada para a Seleção Nacional. "Foi um dia bom para o BTT português. O sexto lugar num Campeonato da Europa é muito bom, mas mais relevante ainda foi o facto de o Rafael ter estado na discussão dos lugares de pódio. A Beatriz é uma corredora de primeiro ano e este foi o seu primeiro Campeonato da Europa. Fez uma boa corrida e é uma ciclista ainda com muita margem de evolução. Dá-nos muita esperança para o futuro", resume o responsável técnico.