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O caricato caso do ciclismo feminino em Portugal

Portugal é um país com um potencial enorme, mas parece adormecido. As coisas custam a avançar e parece que há entraves em tudo. O caso do ciclismo feminino é um desses exemplos e merece ser analisado.

O caricato caso do ciclismo feminino em Portugal
O caricato caso do ciclismo feminino em Portugal

Embora só tenha ganho algum mediatismo nos últimos anos, o ciclismo feminino existe há décadas, mas sempre de forma amadora. Durante anos, sentimos que o ciclismo feminino era encarado quase como "uma obrigação" e nunca entendemos por que motivo a vertente feminina era olhada como se fosse um "filho bastardo" da modalidade.

Aos poucos, fomo-nos apercebendo que esta modalidade continua a ser pouco tolerante. É um meio fechado, onde é difícil entrar e isso, quer se queira, quer não, afasta patrocinadores, empreendedores com boas ideias e mesmo atletas.

Sempre vi, e vejo, atletas ao longo das últimas décadas com uma garra enorme, com espírito de sacrifício e de um altruísmo de fazer inveja. Nomes como Ana Barros, Isabel Caetano, Celina Carpinteiro, Ilda Pereira, Daniela Reis, Liliana Jesus, entre outras, sempre lutaram pela modalidade e fiquei sempre com a sensação de que poderiam dar muito mais se não se tivessem apaixonado por uma modalidade pouco tolerante ao ciclismo feminino.

Há poucos anos, a UCI anunciou as tendências futuras, uma espécie de guideline para os Presidentes das Federações nacionais, em que apontava o ciclismo feminino como prioridade. É verdade que surgiu mais dinheiro para esta vertente, mas esse dinheiro ficou retido na organização de provas e pouco mais. 

E como tudo o que funciona mal tem tendência a falhar, Portugal adotou à força, sem meios, sem organização e com uma metodologia pouco ineficiente, um calendário parco, incluindo a "renovação" da Volta a Portugal feminina.

A Federação Portuguesa de Ciclismo tudo fez para trazer a Volta, arrecadar patrocínios e criar uma estrutura condigna. Nesse aspeto a evolução foi notória, mas tudo o que vemos é ilusório, porque não estão criadas as bases e se tivermos de contar quantas portuguesas estão em prova, ficamos com a realidade nua e crua do ciclismo feminino em Portugal. 

Dizem que há mais dinheiro para as equipas que tenham ciclistas femininas, mas pergunto eu - e já agora todos nós - para onde têm ido essas verbas? 

Sem ovos não se fazem omoletes e querer colocar o "carro à frente dos bois" não só descridibiliza a modalidade, como desincentiva todos aqueles que querem dar um futuro condigno ao ciclismo feminino.

Ideias não faltam e até me atrevo a dizer que patrocínios também não, desde que seja apresentado um projeto minimamente profissional, apelativo e diferenciador, com um cuidado especial na imagem e na repercussão mediática. 

O que vejo, sinceramente, é pouco, muito pouco e sobretudo quando falta pouco tempo para a Volta a Portugal é que soam os alarmes e de repente parece que o ciclismo feminino tem mais dinheiro à sua volta do que aquele que realmente existe. Parece o algodão doce: quando olhamos para ele parece imenso, mas quando o vamos comer desfaz-se em mil pedaços.

Há exceções, claro. Projetos bem organizados, equipas com vontade de trabalhar e staff - muito dele pro bono - com muita paixão pela modalidade. Mas a paixão não traz meios nem uma estrutura, não paga treinadores, massagistas, mecânicos, viagens, gasóleo, alimentação, hoteis e tudo o resto.

Parece que andamos numa roda e não saímos do mesmo sítio. E se em vez de ver este marasmo, fosse criada uma task force com funções atribuídas (angariação de patrocínios, negociação com Media, planeamento de um calendário, etc) para tentar mudar o rumo das coisas?

O provérbio "O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita" pode fazer sentido em algumas coisas, mas creio que temos pessoas qualificadas em Portugal que podem dar uma ajuda. 

Porque o ciclismo feminino tem futuro, porque existe muita garra neste segmento e porque chegou o momento de mudar o rumo do ciclismo luso.

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