O que é que define aquilo que somos? Serão as atitudes que tomamos? Ou aquilo que os outros acham que somos? E se essas pessoas não nos conhecerem realmente? Será que se baseiam naquilo que percepcionam, naquilo que transparecemos, incluindo as nossas particularidades físicas, como alguma deficiência, maneira de falar ou jeito de vestir?
Eu, por exemplo, descobri num bike fit que tenho uma perna maior do que a outra (como milhões de outras pessoas), e que a minha clavícula direita é ligeiramente mais curta do que a esquerda. Mas tal não é visível a olho nu. Será que posso dizer que tenho uma deficiência? Ou será que os outros podem considerar que eu tenho uma deficiência?
O tema é complicado e, apesar de não parecer, sim, existe preconceito. Mas será que as pessoas que têm algum tipo de deficiência, ou paralisia cerebral têm de se resignar e abdicar de ter uma vida normal?
A resposta, como é óbvio, é não. Neste artigo mostramos a história de vida de Nuno Ribeiro que, aos 30 anos, é a prova de que a paralisia cerebral é apenas um desafio na sua vida, e que o obriga a lutar para conquistar os seus sonhos e objetivos. Este ensinamento de vida que o Nuno nos transmite é o espelho de todos aqueles que se debatem com algum tipo de contrariedade ou deficiência. Pois com determinação e entrega, não há impossíveis. Como ele próprio diz: "a paixão transpõe montanhas".
Este texto é da autoria do Nuno:
"Nasci a 28 de Agosto de 1990 se calhar, quem sabe, com o objetivo de mudar mentalidades e de demonstrar que a palavra impossível não deveria existir no dicionário do ser humano! Nasci com Paralisia Cerebral, deficiência relacionada com o Sistema Nervoso Central. Quando me perguntam o que é, não sei a melhor forma de explicar, de forma a que as pessoas entendam, por isso digo que o cérebro não envia os comandos corretos para o corpo, daí eu ter problemas de equilíbrio e deslocar-me com “este andar desengonçado".
Desde que nasci, todos os médicos disseram aos meus pais que eu nunca iria andar! Foi então que conhecemos a Associação NÓS - Associação de Pais e Técnicos para a Integração do Deficiente -, que tem como objetivo promover a inclusão social de pessoas com deficiência ou em situação de risco e/ou desvantagem social. Nesta associação foi dito aos meus pais que havia uma fisioterapeuta, a quem eles poderiam pedir mais uma opinião! Depois de já terem ouvido tanto, não perdiam nada por saber mais uma opinião.
Após uma avaliação, a fisioterapeuta disse aos meus pais que eu tinha tudo para andar e que iria andar! Comecei a andar apenas com cerca de 7 anos de idade, depois de fazer a minha primeira cirurgia, para alongamento de tendões, até então só me equilibrava agarrado a alguém ou a alguma coisa. Era uma cirurgia inovadora em Portugal, ainda tinham sido realizadas poucas cirurgias com esta técnica por isso os médicos não sabiam qual seria o resultado final em mim!
A cirurgia foi um sucesso, mas os médicos disseram aos meus pais que podia ser necessário repeti-la mais tarde, na adolescência devido ao crescimento! Após um longo processo de recuperação comecei a caminhar sozinho sem ser necessário apoio de ninguém! Avancemos até aos meus 16/17 anos, fase da adolescência, em que damos um pulo grande em termos de crescimento! Foi necessária nova cirurgia, uma vez que os tendões não acompanharam o crescimento e foi necessário novo alongamento dos mesmos.
Esta cirurgia foi dividida em 3 fases! E acabou em mais um sucesso! Depois de finalizado novo processo de recuperação, e já cansado de tantos anos de fisioterapia, resolvi entrar para um ginásio. Por ser um ambiente novo para mim foi necessário optar por ter Personal Trainer, seria a melhor forma de me ambientar e evoluir ainda mais! Se a minha vida tinha mudado até aqui, iria mudar mais ainda... Num dos treinos, perguntei-lhe se ele dava Aulas de Grupo e se sim quais eram!
Ele disse que dava Cycling! Perguntei-lhe o que era, e ele explicou-me! Nesse momento, após a explicação, essa modalidade despertou-me interesse, ainda sem ter experimentado. Quando lhe pergunto se teria condições para a praticar ele disse-me que se calhar seria difícil... Mas eu gosto de ir a favor do que dizem ser difícil ou impossível por isso fui experimentar! Desde essa primeira aula que a paixão nunca mais desapareceu!
Passaram 4 anos e ser só aluno para mim não chegava, queria mais, queria ser instrutor! Foi então, que me foi apresentado, o Master Instrutor de Spinning Pedro Maia, que já tinha dado formação a outras pessoas também com algum tipo de limitação. Após uma “avaliação" para ver a viabilidade de eu tirar ou não a Formação para lecionar classes de Spinning, propôs-me que eu fizesse a Formação e nessa altura reavaliar a possibilidade de uma carreira como instrutor.
Inscrevi-me na formação e felizmente concluí-a com sucesso! Ter recebido o certificado de instrutor, foi ainda mais uma lufada de dar ar fresco na minha motivação, pois consegui-me superar, em algo que nunca pensei ser possível! Concluo, deixando a mensagem, que quando quiserem dizer que é impossível, substituam o impossível por possível!"