Depois do adiamento de várias provas desportivas, incluindo os Jogos Olímpicos, a grande dúvida que paira no ar é se a prova mais importante do ciclismo mundial, a Volta a França, se vai realizar. Apenas duas Grandes Guerras conseguiram parar o pelotão, por isso, será que a pandemia do Coronavírus terá o mesmo impacto?
Esta é a grande pergunta que todos nós temos, não só entre equipas, dirigentes e ciclistas, mas também entre todos aqueles que são fãs de ciclismo. Afinal de contas, trata-se da maior prova de ciclismo do mundo e um dos maiores eventos desportivos à escala global. A ASO, empresa que organiza o Tour, está a reflectir, tendo em conta os dados diários da pandemia em solo francês e até ao dia de hoje mantém a data inalterada.
A pandemia destroçou o calendário de ciclismo em todo o mundo. Não haverá Volta a Itália, nem Clássicas, nem Jogos Olímpicos. Mas o Tour parece aguentar, enquanto o ciclismo parece tremer. Um desporto que vive dos patrocinadores treme por todos os lados. As equipas estão preocupadísimas, os organizadores estão frustrados e os ciclistas não têm outro remédio senão treinar em casa.
Se existe alguma unidade no mundo do ciclismo, reside na necessidade de suspender as provas porque a prioridade é a saúde mundial e não o cumprimento de um calendário. Foi desta forma que o pelotão se manifestou, aceitando a situação excecional que o mundo vive, desde Chris Froome, passando por Alejandro Valverde, Egan Bernal ou Thibaut Pinot.
Somente as bombas conseguiram parar a Volta a França. A 1ª Grande Guerra Mundial que decorreu entre 1915 e 1918 e a 2ª Grande Guerra entre 1940 e 1946 foram implacáveis com a França, como ameaça ser agora o coronavírus. Enquanto aguardamos por desenvolvimentos, a Ministra do Desporto de França, Roxana Maracineanu, defendeu a importância do Tour, e entre o Governo e a ASO estão a analisar opções para a prova. Existem várias cartas em cima da mesa, e uma das hipóteses seria fazer uma versão simplificada da prova, com uma distância de segurança entre o público e a caravana do ciclismo. Isto implicaria também o controlo sanitário de todos os envolvidos antes da prova começar e o isolamento dos ciclistas e staff antes e depois de cada etapa.
VOZES CRÍTICAS
Há quem esteja completamente contra a realização do Tour. Aliás, são os mesmos que advogaram o cancelamento total do Paris Nice, embora a prova tenha decorrido, com o cancelamento da última etapa. No seguimento dessa prova, o diretor do Tour, Christian Prudhomme, disse: "Somente duas guerras mundiais pararam o Tour. Ainda faltam mais de cem dias para o início. A vontade de todos em ver a prova será imensa".
Algumas vozes críticas começaram a surgir contra a possibilidade de o Tour decorrer nos trâmites habituais, como a de Bernard Hinault, cinco vezes vencedor desta prova. Hinault questiona o perigo que todos correm ao estar a competir num evento que é de livre acesso, perante milhares de espetadores em cada etapa.
Os ciclistas esperam e temem a possibilidade de o Tour se celebrar a duas velocidades. Os ciclistas na Bélgica e alguns outros países europeus ainda podem treinar ao ar livre (como em Portugal), mas os ciclistas italianos, espanhóis e franceses não podem. As equipas e patrocinadores estão preocupados. O patrão da Deceuninck-QuickStep, Patrick Lefevere, o mais veterano do ciclismo mundial, salientou os problemas económicos que podem afetar as equipas. "Se a Volta a França não se realizar, todo o modelo de ciclismo pode colapsar".
De momento, resta-nos esperar. Começou um contrarrelógio crucial que visa evitar que a guerra do vírus pare de novo a Volta a França. A saúde deve estar em primeiro lugar, mas os valores monetários também mandam, e o dia a dia marcará a pauta até chegarmos a uma decisão que ficará na história da modalidade.