E se um dia acordasses com um objetivo bem concreto? Já aqui mostrámos os feitos de Filipe Matos, Alberto Contador e anunciámos o novo projeto de Tiago Ferreira.
Mas há também uma portuguesa que não vira a cara à luta e depois de inúmeras viagens de BTT pelo mundo (certamente leste muitos dos relatos na revista BIKE) e provas de Triatlo, o objetivo agora era outro. O relato da Filomena é bem explicativo, por isso publicamos na íntegra.
"Às 4h da madrugada de Sábado, 11 de julho, iniciei a solo a primeira de 10 subidas rumo ao Everesting 10k (10.000 metros) que me propus realizar no segmento Lousã-Trevim, com uma extensão de 25 km (50 km contando com a descida) e cerca de 1000 mts. Trata-se de uma ascensão mágica se feita de madrugada. Era eu, a luz da minha lanterna e os animais selvagens que cruzaram o meu caminho: veados, corças, raposas, javalis..."
"Cheguei ao topo do Trevim com o despontar do dia, e daí para a frente foi somar subidas e descidas sempre no mesmo segmento (uma das regras do Everesting). No final de cada descida, na base da Lousã, tinha o meu abastecimento montado no carro, com geleiras e bidons já preparados, era só trocar e voltar a subir. Durante o dia em que apanhei todo o tipo de condições (calor de 35 graus, chuva forte tropical, vento, relâmpagos e trovões) tive a companhia pontual de alguns amigos, sendo que o último me deixou cerca das 18h30, estando eu com cerca de 250 km percorridos e 5000D. Nessa altura já lavrava um incêndio numa encosta próxima do Trevim. Iniciei a nova subida a solo já com as luzes montadas e durante toda a ascensão não paravam de passar viaturas de Bombeiros, GNR, Proteção Civil, ambulâncias, etc. Adivinhava que o incêndio tivesse alastrado e suspeitei que não me permitiram passar. Assim foi: a cerca de 6 km do Trevim fui barrada pelas autoridades, já um bombeiro tinha falecido cercado pelo fogo."
"Desci já de noite, com todas as cautelas, cerca das 21h30, vento, relâmpagos e trovoada deixavam adivinhar uma tempestade noturna sem paralelo. Na minha mente tive de refazer o plano: um dos “badges" do Everesting (o chamado ROAM) permitia fazer os 10k em duas etapas, desde que com uma extensão total superior a 400 km e no tempo máximo decorrido de 36h. Mudei o meu foco num ápice, tinha nessa altura 285 km e 6000 mts. Desistir nunca, vou fazer o ROAM. Às 06h da manhã de Domingo, iniciei a sétima subida. A meio da descida, próximo da aldeia do Candal, a roda de trás pregou-me uma partida e eu pressenti que iria cair. Deixei-me ir propositadamente para a valeta para não ser vítima do alcatrão. A queda poderia ter sido grave, mas acabou sem consequências impeditivas, a não ser um golpe profundíssimo no antebraço esquerdo, que sangrava abundantemente, mas não era impeditivo, ou pelo menos a adrenalina e a minha vontade não me impediam de continuar."
"Fiz mais três subidas, no total de quatro naquele dia, com 4000mts, mais 225 km, e terminei o meu ROAM em 35h20, com um total de 510 km, e uma interrupção forçada entre as 22h e as 6h de Domingo."