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Entrevista exclusiva: Francisco Moreira

Esta é a história do primeiro Português a competir em Elites nos Campeonatos do Mundo de Gravel.

Juliana Reis

Entrevistámos Francisco Moreira
Entrevistámos Francisco Moreira

Francisco Moreira foi o único ciclista português a competir na categoria Elite nos Campeonatos do Mundo de Gravel. Esta participação destaca-se como um feito notável para o ciclista nesta disciplina emergente. Lembramos que este atleta correu no pelotão nacional antes de decidir embarcar num projeto profissional a solo no BTT e no Gravel.

O Campeonato Mundial de Gravel UCI 2024 decorreu na Bélgica e a prova masculina aconteceu no passado dia 6 de outubro. Este evento atraiu ciclistas e público de todo o mundo e também diversas marcas. Esta edição em Flandres ofereceu aos ateltas um desafio único, combinando o terreno técnico característico do gravel com o cenário histórico do ciclismo belga. A atmosfera vibrante e a paixão pelo ciclismo na região contribuíram para um evento memorável que certamente ficará na memória dos participantes e público.

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Na prova, Moreira terminou em 133º lugar, ou seja, 29m50 após o vencedor, Mathieu Van der Poel. Este resultado, embora não seja uma posição de topo, representa um marco importante para o ciclismo português no cenário internacional do gravel e para o próprio ciclista que começou este ano nesta disciplina com o seu projeto inovador em Portugal.

Falámos com Francisco Moreiro acerca da sua participação nos Campeonatos do Mundo de Gravel 2024 e sobre as considerações que precederam esta prova.

Como foi a tua preparação para os Campeonatos do Mundo de Gravel?

“Não me preparei especificamente para esta corrida, o meu intuito é estar bem em todas as corridas durante o ano. Alinho sempre com o intuito de fazer o melhor resultado: ganhar; apesar de em algumas provas ser complicado, mas é sempre esse o meu objetivo. Não nos podemos focar só numa corrida porque há variantes que não podemos controlar, como furos ou avarias, por isso é fazer o trabalho de casa e esperar que o corpo esteja num dia sim e preparado para sofrer. A época já vai  longa e já fiz várias corridas, o treino está em dia, por isso é só esperar que as pernas respondam e desfrutar da corrida. Em termos de treinos, por exemplo, faço muitas vezes 7h sozinho com um Camelbak nas costas para me preparar, gosto de fazer estas corridas longas e duras. Enquadram-se nas minhas características.”

Como foi participar nos Campeonatos do Mundo de Gravel?

“Foi uma experiência incrível. Todos os atletas sonham participar num campeonato do mundo, e não sou diferente deles, e este foi o meu primeiro mundial! Tenho que admitir que estava super nervoso, porque no gravel é cada um por si e este foi um crono (contrarrelógio) de 185 km onde saímos a fundo e chegámos a fundo.”

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Como foi alinhar com os grandes nomes do ciclismo que participaram neste evento?

“Foi um sonho tornado realidade. Felizmente já tive a sorte de fazer parte de outras corridas importantes, também com nomes importantes do ciclismo. No final de contas e apesar de serem "grandes nomes do ciclismo" são ciclistas como eu e dentro da corrida existe respeito. No fim somos todos iguais e estamos ali todos para ganhar.”

O que achaste do ambiente da corrida na Bélgica?

“O ambiente é incrível, por isso é que chamam a Bélgica a capital do ciclismo. As pessoas adoram e apoiam imenso os ciclistas na berma da estrada, neste caso nos trilhos. Só tinha assistido na televisão às clássicas - Tour de Flanders- mas estar aqui e presenciar este ambiente é sem dúvida incrível. Causa arrepios e esquecemo-nos da dor de pernas, dá-nos motivação e aumenta o nosso limiar de dor. Admito que foi muito bom sentir o apoio dos emigrantes portugueses na Bélgica durante a corrida, não estava à espera que gritassem o meu nome, que viessem falar comigo e mandar mensagens nas redes sociais, foi sem dúvida um apoio muito importante.”

UM PROJETO AMBICIOSO

Francisco Moreira, ciclista natural de Manteigas, embarcou recentemente num ambicioso projeto a solo no ciclismo de gravel, apostando na internacionalização da sua carreira. Apesar de enfrentar desafios significativos na definição do seu calendário e na obtenção dos apoios necessários, o atleta conseguiu assegurar parcerias importantes na região da Serra da Estrela. Essas colaborações permitiram-lhe participar em competições de prestígio. Moreira reconhece as dificuldades inerentes a este novo empreendimento, destacando a necessidade de "arregaçar as mangas" para fazer crescer o seu projeto.

Para se qualificarem para estes mundiais de gravel, os atletas tinham de ter prestações significativas nos campeonatos nacionais, continentais ou eventos da UCI Gravel World Series. Esta diversidade de categorias permitiu que ciclistas de diferentes níveis e experiências participassem na competição.

Como foi o teu processo de qualificação?

“Estive presente em três Taças do Mundo de Gravel, com um nível altíssimo com ciclistas e ex-ciclistas World Tour, estas influenciam o apuramento em 25% da classificação final. Infelizmente estive sempre perto de me qualificar, mas não consegui. A minha única solução passava pela federação. Apelei à Federação Portuguesa de Ciclismo um wildcard, cada federação tem direito a 20 wildcards, e após muito batalhar (foi uma luta complicada) atribuíram-me. “

Quais foram os apoios que te permitiram chegar aos Campeonatos do Mundo de Gravel?

“Desde o início do ano que tento angariar o máximo de patrocinadores. Posso admitir que não é uma tarefa fácil e o dinheiro nem sempre chega a horas. Por vezes o dinheiro para as corridas sai primeiro do meu próprio bolso. Até a bicicleta com que corro não é minha, é de um tio - João Elvas - que numa conversa me disse que tinha uma bike de gravel e se eu gostava de experimentar. E assim foi, na altura nunca pensei que esta seria a bicicleta que iria comigo aos mundiais. De momento conto com perto de 20 patrocinadores, todos ajudam um bocadinho e esse bocadinho faz o bolo completo, mas o principal é sem dúvida a Câmara Municipal de Manteigas - levo comigo a minha Vila e faço publicidade para que nos visitem, na Serra da Estrela. Estou sempre aberto a novos patrocinadores, por isso se gostam do meu projeto e querem fazer parte dele não exitem em contactar, qualquer ajuda é sempre bem vinda.”

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Tens alguma história engraçada que nos possas contar que tenha acontecido numa prova de Gravel?

“Todas as corridas de gravel contam uma história. Ainda nesta corrida tive duas situações bastante peculiares. No dia antes da prova, quando estava a analisar todos os parafusos, parti o parafuso que aperta o espigão de selim. Eram sete da tarde, fui à Decathlon, ninguém lá me quis ajudar. Felizmente conheci o Diego que me ajudou em tudo o que podia e acabámos por resolver o problema. Como forma de agradecimento dei-lhe um Jersey, porque na verdade se não fosse ele eu não ia conseguir alinhar nos Mundiais. Venho apenas com uma bicicleta e uma mala para as corridas, sem staff, nem mecânico nem ajuda técnica, é sempre ao desenrasque. É arranjar um voo e um local barato para ficar e desfrutar da oportunidade de andar de bicicleta num país e num sítio novo. Claro que muitas vezes ocorrem situações caricatas.”

 

O atleta de 25 anos, sofreu uma reviravolta na sua carreira no ano passado, ficando sem contrato no pelotão nacional. Esta mudança levou-o a embarcar pelos trilhos e novas vertentes do ciclismo. A nova fase na sua carreira, proporcionou-lhe novas experiências e desafios. Quando questionado sobre como foi a mudança da estrada para o gravel o atleta respondeu com entusiasmo.

Que avaliação fazes do teu projeto até ao momento? 

“Está a ser incrível! Foi o melhor que me podia ter acontecido, não só fazer gravel mas também provas por etapas de BTT. Tenho-me cruzado com pessoas espetaculares como o Tiago Ferreira. Um ex-campeão do mundo que tem muito para ensinar, tem uma mentalidade de crescimento, é profissional como eu e treinamos juntos imensas vezes. Eu estava saturado do ciclismo em Portugal, completamente ultrapassado e antigo. Tenho ideias inovadoras e tento sempre estar atualizado e por vezes era vítima de gozo, mas a verdade é que o que eu dizia há uns anos em Portugal está a ser atualmente implementado. Esta nova etapa tem-me proporcionado experiências incríveis, correr em sítios novos motiva muito mais do que estar sempre a fazer o mesmo calendário ano após ano em Portugal. Só posso dar graças desta oportunidade que surgiu e espero no próximo ano poder continuar e ir em busca de novas corridas em novos países, porque é esta a minha mentalidade: ver sempre mais à frente e superar-me dia após dia.”

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