Para tal, a marca quis cortar com o passado e apresentar uma plataforma completamente nova. Pegar num modelo existente e melhorá-lo, simplesmente não iria ser a solução. O objetivo era criar uma trail bike com a maior autonomia possível, o melhor motor, um design elegante e agressivo e resolver algumas limitações como a integração dos componentes, o comportamento, a geometria e muito mais.
Já muito foi divulgado sobre a Patron nos últimos tempos, portanto vamo-nos focar na sua utilização, mas relembrar também alguns pontos-chave importantes para compreender esta bicicleta na sua totalidade.
Mais potência
Em termos de unidade motora, a Scott optou pelo Bosch Performance CX, capaz de debitar 85NM (equivalente a 340% de assistência) e por uma bateria de 750 Wh (mais 20% de autonomia).
O quadro conta com um “berço” na zona do pedaleiro que suporta e envolve todo o motor, de modo a que as forças geradas por este e pela pedalada não comprometam a rigidez torsional (que aumentou 50% quando comparada com a da e-Genius).
O motor surge posicionado mais na vertical para que deixe espaço para a maior bateria atualmente disponível, a Bosch de 750 Wh que oferece cerca de 20% mais autonomia que a anteriormente disponível. Sendo 7cm mais comprida, e querendo a Scott que esta bateria coubesse até num quadro de tamanho S, a solução foi desenhar o tubo diagonal com um ângulo mais pronunciado de modo a poder retirar a bateria por uma porta junto ao pedaleiro. Assim, além de facilitar a carga a quem não tem por perto uma tomada, permite que o quadro de carbono seja totalmente fechado e feito de uma só vez num molde que inclui todo o triângulo dianteiro. A rigidez sai altamente beneficiada (graças também à enorme caixa de direção de 1.8”) e com menos material, o peso final é também ele bastante inferior.
Versões em carbono, alumínio e híbrido
As versões 900 Ultimate e 900 Tuned são as únicas equipadas com quadro totalmente em carbono, ainda que as escoras inferiores sejam em alumínio para poder receber um descanso lateral. O modelo 900 conta com triângulo dianteiro em carbono e todas as escoras traseiras em alumínio.
E nas versões 910 e 920, o quadro é totalmente em alumínio. Toda a unidade elétrica (motor, bateria, comandos e ciclocomputador) são partilhados por toda a gama, sendo a diferença principal ao nível do quadro e dos restantes componentes.
Em todos eles, o amortecedor Nude é alojado, à semelhança da Spark, dentro do quadro, sendo o acesso ao mesmo feito por uma pequena porta que não requer ferramenta para abrir. Ao trabalhar dentro do quadro, beneficia de uma maior duração por requerer menos manutenção e não estar exposto às intempéries.
Como é apanágio da marca, o Nude conta com três modos de funcionamento (descida, traction control e bloqueio total), controláveis através do comando. O TwinLoc agora também integra o comando do espigão telescópico.
Em termos de geometria, há uma alteração de ângulos de 0.5º no modo traction control e lockout, o que melhora a posição de condução e comportamento nas subidas, além de elevar o pedaleiro em 6mm para deixar mais altura livre ao solo.
O ângulo de direção em modo Descend é de 65º enquanto que o de selim varia entre 76.8 e 77º, consoante o tamanho de quadro. A altura do BB é de 347 mm.
Take off
Antes de irmos para os trilhos convém familiarizarmo-nos com o cockpit. Conforme já referimos, temos um novo Twin Lock que integra o comando do espigão de selim. Logo ao lado, o comando do motor e do computador Kiosk 300, que nos mostra - em várias páginas distintas - informações como autonomia, modo de assistência, distância percorrida, médias, etc. E pode ser emparelhado via Bluetooth à aplicação Flow da Bosch. As páginas são navegadas através de três botões no comando, que conta ainda com dois botões maiores, que alternam entre os 4 níveis de potência do motor.
Estes dois botões têm ainda uma outra função, a de ligar/desligar as luzes traseiras e para colocar o motor no modo de assistência ao caminhar, para que o motor funcione automaticamente com um nível de assistência baixo para nos ajudar a empurrar a bicicleta subida acima caso não nos consigamos montar naquela zona do trilho.
Este comando remoto conta com alguns leds, que nos informam do nível da bateria e também em que modo de assistência estamos, ou seja, não precisamos de olhar para o computador para tal.
O comando é intuitivo e fácil de usar, podendo a sua posição no guiador ser ajustada independentemente do Twin Loc ou da manete do travão.
Nas versões Ultimate e Tuned o guiador é o novo Syncros Hixon IC SL, de avanço integrado, semelhante ao que equipa a Spark. Com esta solução, o cockpit fica mais limpo visualmente pois os cabos são direcionados para a caixa de direção. Esta solução não é prejudicada nas outras versões de avanço e guiador standard. A largura do Syncros é de 780mm e existe com avanços de 50 e 60 mm e 15mm de elevação.
Primeiras impressões
Apesar de ser uma bike de trail a fugir para o Enduro, pois tem 160 mm de curso em ambas as rodas, a posição de condução é bastante natural e deixa adivinhar alguma agilidade quando o trilho empina ou se torna mais sinuoso. Não temos aquela sensação de estar “afundados” numa bike de longo curso de ângulos demasiado abertos em que é difícil pedalar. Para isso muito contribuem as posições traction control e full lock com as já mencionadas alterações de geometria. No modo traction control temos, como o nome indica, bastante tração, tanto em subidas técnicas como em zonas planas irregulares onde não faz sentido trancar por completo os amortecedores. Os amortecedores funcionam o necessário para manter o conforto que se espera e em subidas técnicas mantêm quase sempre a roda traseira colada ao solo, o que é essencial quando temos 85 NM prontos a impulsionar a bike, especialmente no modo Turbo.
Neste setting de Traction Control, nada trava a Patron. Basta ter um pouco de técnica e apontar a Patron para onde queremos ir e ela faz praticamente tudo sozinha. É impressionante a facilidade com que sobe trialeiras, lages, e até mesmo zonas sem trilho marcado como aconteceu na apresentação em que tinha de inventar uma trajetória quando algum jornalista parava à minha frente.
De facto é impressionante, tanto no modo Turbo como no eMTB, a forma como todo o conjunto trabalha para nos levar ao topo de um segmento, por mais técnico que seja. Raramente perde tração e a altura do BB ao solo conjugada com o menor curso neste setting fez com que nunca tocasse com um pedal no chão, mesmo pedalando em zonas muito irregulares.
Explorando os modos de potência
Em termos de motor, começámos por explorar o nível de potência Eco. É suficiente para anular os cerca de 24 kg do modelo que testámos e deixar imprimir um ritmo semelhante ao que normalmente conseguiríamos numa bicicleta trail sem motor. Neste modo a marca promete cerca de 100 km de autonomia. Para um andamento tranquilo em subida em tiradas muito longas, diria que é suficiente. Mas no modo Tour as coisas já aquecem um pouco. A potência disponível aumenta notoriamente e permite um ritmo um pouco superior ao que teríamos numa bike tradicional. Mas como esta bike foi desenhada para um uso mais agressivo e intenso, dificilmente o utilizador fará mais de 50 ou 60 km por ride. E aí, combinando os modos eMTB e Turbo, temos acesso a um novo mundo de potência. E foi para isso que esta bike foi desenhada, para atacar as subidas a um ritmo espevitado e rapidamente chegar ao topo, para poder descer o maior número de vezes os trilhos preferidos.
O eMTB é como um modo inteligente e aquele que mais faz sentido utilizar. Garante mais de 50 km de autonomia e permite-nos imprimir um ritmo muito rápido nas subidas. E quanto mais pedalamos, mais o motor assiste. Ou seja, o nível de assistência que fornece aumenta se sentir que estamos a querer ir mais rápido. Neste sentido, o Turbo é mais passivo: entrega sempre a mesma potência.
O eMTB também tem uma entrega de potência mais progressiva, assemelhando-se mais a uma aceleração normal numa bike de 12-13kg. Portanto podemos concluir que o eMTB é quase um Turbo quando é preciso, mas também doseia e poupa bateria quando o ritmo não é tão intenso. Através da APP Flow da Bosch, podemos brincar com os parâmetros dos vários modos, menos do eMTB que de si já é inteligente e optimizado.
Turbo quando?
Assim sendo, quando é a melhor altura para utilizar o Turbo? Quando queremos atacar uma subida técnica, cheia de obstáculos, e queremos a máxima ajuda do motor em qualquer momento. Quando queremos voltar ao topo da montanha no menor tempo possível e com o menor cansaço de pernas, utilizando os estradões como se fossem auto-estradas. E, por fim, nas descidas. Mas a descer os santos não ajudam? Sim, em especial numa bike “normal”. Mas após várias runs em trilhos técnicos e muito sinuosos, alternando entre os modos eMTB e Turbo, tira-se uma conclusão interessante: o modo Turbo permite-nos sair rapidamente de uma curva apertada, mesmo quando nos esquecemos de trocar a mudança. É que a Patron desce excecionalmente, e muitas vezes abordávamos zonas técnicas com velocidade a mais, tendo de travar a fundo para as curvas e sem preparar bem a saída de curva. E no modo eMTB, para voltar a impulsionar os 24kg da bike (mais os meus 80kg), temos sempre de esperar um pouco e a assistência é progressiva. No modo Turbo, no espaço de um ou dois segundos já estamos de novo a uma velocidade digna dos trilhos e do uso para o qual a Patron foi concebida. Apenas temos de aprender a controlar o impulso imediato.
Comportamento impressionante
Já aqui falámos da facilidade com que subimos e rolamos em trilhos de qualquer tipo. Mas onde a Patron impressiona é a descer. A rigidez do conjunto, a geometria e o comportamento de elementos como as suspensões, travagem e rodas/pneus, conferem a esta máquina um estatuto de verdadeira Enduro.
Tivemos a oportunidade de fazer diversos tipos de descidas, mais ou menos sinuosas, em piso arenoso e húmido e também em zonas mais soltas, em raízes, lages e pedra solta.
Antes de mais, é impressionante a agilidade com que movemos os seus 24 kg no trilho, seja a contornar os obstáculos maiores seja a mudar de direção. Ao fim de um curto período de habituação à posição de condução, distribuição de pesos e motor, parece que estamos a andar numa bike com menos 7 ou 8 kg do que na realidade tem.
Absorver irregularidades, a qualquer velocidade e de qualquer tamanho ou tipo, não é problema. Nunca sentimos falta de sensibilidade no amortecedor traseiro, até porque no início de curso conta com um rácio de quase 3:1! E a Fox 38 Factory dispensa apresentações, com um funcionamento e uma rigidez que garantem uma frente super precisa e confiante, graças também à direção 1.8”.
Onde se sente alguma limitação é no final do curso. Gostaríamos que o Nude fosse um pouco mais progressivo a partir de metade do curso. Não só para permitir um “tacto” mais direto da traseira em zona de piso bom e assim conseguir maior rapidez e apoio em curva, mas também para “segurar” os 24 kg em saltos e drops. Em duas ocasiões esgotei o curso atrás, o mesmo tendo acontecido com alguns colegas. Claro que podemos aumentar a pressão de ar no amortecedor, mas assim sacrificamos toda a curva de funcionamento. Ou podemos abusar menos da Patron! Mas o conjunto é tão capaz que facilmente estamos no limite das nossas capacidades e a desfrutar muitíssimo!
Utilizando cerca de 70% o modo eMTB e 30% o Turbo, a autonomia rondou os 50km, mais que suficiente para fazer várias subidas e descidas sempre com rapidez.
Preços e versões
Em termos de gama, a Patron está disponível em 7 modelos no total. 5 versões masculinas; 900 Ultimate (11.399,99€), 900 Tuned (8.999,99€), 900 (7.999,99€), 910 (6.899,99€) e 920 (6.199,99€) e 2 modelos para senhora; Contessa Patron 910 e 900 (ainda sem preços disponíveis). Estes modelos deverão chegar a Portugal em Abril.
Poderás saber mais informações no site do distribuidor nacional em jasma.pt.