Foi com muita expectativa que recebemos o convite da Scott para participar nesta apresentação. Não só porque era num local onde já conhecemos alguns trilhos, mas também porque seria dose dupla: o reencontro com duas bicicletas que conhecemos muito bem: Ransom e Voltage. Tudo o resto era desconhecido. Que tipo de bikes são? Que novas tecnologias trazem? Como se posicionam na gama?
E embora tenham sido apresentadas ao mesmo tempo, para já só podemos falar da Ransom. A Voltage e-ride, vai ser mantida em segredo até final de Fevereiro, portanto esta apresentação será focada na nova Ransom.
ONDE FICA HIERARQUICAMENTE A RANSOM?
Quem está por dentro do assunto, especialmente no que respeita a bikes mais polivalentes, sabe perfeitamente o que é a Ransom. Quando foi lançada, introduziu uma série de tecnologias e funções que a tornavam numa referência do segmento. No fundo, sempre foi uma bike que se distinguiu das concorrentes do segmento. E esse continua a ser um dos objetivos. Mas de resto, muita coisa mudou. A começar pelo próprio desporto. Atualmente, bikes de XC têm geometria trail e bikes de trail têm geometria de enduro e por aí fora. Basta olhar para a gama da própria Scott: a Spark é hoje capaz de voar em trilhos que eram impensáveis para a primeira geração. A Genius, revista para a coleção de 2023, posiciona-se agora muito mais perto de um uso em enduro do que propriamente trail. E esta evolução tem sido transversal a todas as marcas. Com a Genius e, principalmente, a Genius ST a assumir-se praticamente como uma enduro, com os seus 160mm de curso dianteiro, pneus 2.6, ângulo de direção de 64 mm e discos de 200/180mm, a Ransom estava ameaçada e demasiado próxima em termos de conceito. E isso foi uma “motivação” para redefinir a nova Ransom, criando uma plataforma completamente nova, misturando conceitos já testados recentemente na marca com novas tecnologias e soluções, resultando num pack que mantém o carisma e a distinção que a Ransom original introduziu.

Em suma, a nova Ransom é agora uma Super Enduro, com 170mm de curso em ambas as rodas, com uma geometria que há não muito tempo estava reservada a bikes de DH, mas com uma polivalência incrível, estando tão à vontade nas mais cruéis descidas como nas subidas que nos levam de volta ao topo e tudo o que estiver pelo meio… Mas já lá vamos.

Na base destas mudanças está aquilo a que a Scott interpreta como o novo Enduro. O desporto tem evoluído, os trilhos também, e as bikes inicialmente criadas para Enduro são agora limitadas para as novas exigências.
FOLHA EM BRANCO
A nova Ransom segue a linha estética da Spark e Genius, com o amortecedor escondido, mas tudo o resto é diferente. A começar pelo facto de o amortecedor estar colocado na horizontal, enquanto nas outras “irmãs” está na vertical. Depois, estreia um intricado sistema de amortecedor traseiro com 7 pontos de rotação, mais adaptado ao tipo de utilização e curso deste modelo. E só com estas duas diferenças já temos aqui imensos detalhes que tiveram de ser repensados e desenhados de propósito para acomodar estas duas situações. Depois, temos ainda uma série de detalhes e tecnologias de que iremos falar de seguida.

GEOMETRIA
Ainda que o desenho determine o resultado, tem de ser aplicado com ângulos e medidas que permitam a esta Ransom ser aquilo que os clientes finais pedem e o desporto requer. A palavra de ordem é polivalência. Por isso, a geometria precisa de ser confiante a descer, rápida em zonas sinuosas, e facilitar aquele processo que menos gostamos, subir! O ângulo do espigão de selim é mais vertical (77.2º) para melhorar a posição de condução. O ângulo de direção é mais aberto e a distância entre eixos cresceu, para maior estabilidade. O quadro permite albergar espigões telescópicos com 140 a 210 mm de curso (consoante o tamanho do quadro). Ainda que de origem venha com rodas 29”, permite configuração mullet, tendo para isso um flip chip nas escoras inferiores. A caixa de direção é ajustável entre 63.8 ou 65º de ângulo ou fixa em 64.4º.

MANTER A POLIVALÊNCIA
Todas as marcas pretendem que os seus modelos sejam sempre um pouco mais do que aquilo que parece possível. E a Scott não é exceção, sendo aliás das marcas que mais se aplica em ter uma grande polivalência de uso em todos os seus modelos de suspensão total. A Ransom não é exceção e por isso conta com o famoso manípulo do lado esquerdo com três modos, que controla o amortecedor traseiro (e o espigão telescópico).

Os modos disponíveis chamam-se Climb, Ramp Control e Descend. O Climb não é um bloqueio total, mas anda lá perto, permite quase ter a sensação de estarmos a subir numa bike de XC cujo amortecedor só funciona se as irregularidades assim justificarem. O modo intermédio já oferece algum conforto, sendo mais ativo na leitura do terreno e pode inclusive ser usado sem ser a subir, como por exemplo em zonas irregulares em plano ou até a descer quando precisamos de agilidade e os impactos não justificam ter 170mm de curso e sensibilidade máxima.

UM SISTEMA COMPLEXO E TOTALMENTE NOVO
Para tirar o máximo partido possível dos 170 mm de curso, em termos de sensibilidade, e ao mesmo tempo conseguir a máxima progressividade e ainda um anti-squat ajustado, a Scott viu-se embrenhada em múltiplos estudos até chegar a um desenho com 6 pivôs (7 se contarmos com o ponto de rotação acima do eixo da roda traseira). A este sistema a marca chama simplesmente de 6-link kinematic e diz juntar o melhor de vários mundos. O elemento mais interessante é o tirante vertical, atrás do tubo de selim, que ao ser empurrado para cima (quando o amortecedor comprime), vai atuar outro tirante que roda no tubo de selim e afasta a escora superior numa trajetória muito própria. Vimos o sistema a funcionar, sem amortecedor, e ficámos admirados com a precisão.

É difícil explicar por palavras mas, para quem anda na Ransom, interessa acima de tudo aquilo de que este sistema é capaz. E isso, segundo a marca, é uma capacidade de absorver todos os impactos, do menor (com sensibilidade) ao maior (com progressividade e controlo), enquanto se mantém estável em zonas menos irregulares, dando suporte e agilidade, e terminando com pouca movimentação indesejada quando queremos subir ou acelerar sem sentir que estamos a tentar correr em cima de colchões!

REPLETA DE DETALHES
Espera-se de um modelo novo que tenha tudo aquilo que queremos ou que possa vir a ser uma mais-valia. E esta Scott conta com várias soluções para isso. Por exemplo, dentro do compartimento do amortecedor, existem guias para que os cabos nunca interfiram com o movimento do amortecedor.
A tampa do compartimento serve de proteção e de armazenamento a uma multi-tool. Junto ao eixo pedaleiro, no pivô principal, temos um indicador de SAG que facilita o ajuste do amortecedor e nos permite controlar periodicamente se a pressão de ar é a correta.

Dentro do tubo diagonal do quadro temos um sistema de armazenamento, a Syncros Matchbox, que inclui uma câmara de ar, desmontas e um descravador de corrente. E nas extremidades do guiador, conta com remendos tubeless e a respetiva agulha de instalação.

ÁGIL E DIVERTIDA
Com números tão exagerados (curso, pneus, aros, etc.) assumimos estar na presença de uma bike pesada. Segundo a marca, e sem o kit de ferramentas, a topo de gama da Ransom pesará pouco mais de 15kg. Claro que com pedais e eventuais “extras” facilmente chegará aos 16kg. Mas aqui o peso na balança não é o mais importante. Interessa como é que esse peso se faz sentir nos dois sentidos da montanha (a subir e a descer).

Começando com a ajuda da gravidade, e resumindo o comportamento da Ransom, estamos na presença de uma mini DH. E porquê? Antes de mais, “mini” no peso porque além de serem “elegantes”, estes 16kg pouco se sentem a descer porque a agilidade é um dos trunfos desta Ransom. É certo que o comprimento ou os ângulos em teoria beneficiam mais a estabilidade, mas a verdade é que a par da estabilidade conseguiu-se uma agilidade ao nível de algumas bikes de trail. O grande responsável é o centro de gravidade, bem baixo, pois além de o amortecedor estar o mais baixo possível, é também nesta zona que o quadro é mais reforçado e onde estão os elementos mais robustos do amortecedor traseiro. Claro que a agilidade está dependente da rigidez do conjunto. E nesse aspeto a Scott fez um trabalho notável pois não só a nível do quadro como ainda das rodas, tudo foi estudado para conferir o máximo de rigidez sem “estragar” a sensação de controlo e margem de erro da parte do utilizador.

Ou seja, conseguimos que esta rigidez se traduza em mudanças rápidas de direção, ajudadas pelo tal centro de gravidade baixo, mas sem tornar a condução demasiado rígida ou descontrolada. Aliás a Ransom pode ser configurada para Mullet, mas com a agilidade que apresenta na configuração de origem com ambas as rodas de 29’’, não será necessário para muitos de nós explorar essa opção.

E como tudo funciona harmoniosamente, não podemos deixar de fora as suspensões. Na frente não é preciso falar muito porque a Fox dispensa apresentações. A versão que testámos era a 38 com Grip 2 e Kashima, com uma precisão notável e um comportamento exemplar assim que adaptamos os seus ajustes ao terreno.

Atrás, temos um sistema completamente novo mas onde o importante não é tanto a configuração ou a estética mas sim o comportamento que de lá sai. E aí a Scott volta a não deixar os seus créditos por mãos alheias. Os objetivos eram vários e foram concretizados. Vamos por partes.

SURPRESA A SUBIR
A subir, temos várias “ajudas”. Além dos três modos do amortecedor, temos o funcionamento deste sistema 6-link. E numa bike destas, a prioridade nem é o desempenho a subir. Mas mesmo assim os engenheiros fizeram questão de encontrar um compromisso entre todas as vertentes. Na prática, podemos atacar uma subida de 3 maneiras, ainda que não aconselhe a terceira. Primeiro, usando o modo Climb no amortecedor, controlável pela patilha no lado esquerdo do guiador. Este é o modo a usar quando queremos chegar o mais rápido possível ao topo da subida, independentemente do terreno. É que ao contrário da Spark ou até da Genius onde convém usar este primeiro modo em pisos bons, no caso desta Ransom, mesmo com piso bastante irregular conseguimos aplicar força nos pedais sem perder tração. Acaba por ser um modo de curso reduzido e amortecimento muito controlado, mas que permite boa leitura do terreno. Aliás, não se nota muito a diferença para o modo seguinte, que a marca batizou de Ramp Control. E se na Spark (principalmente, mas também um pouco na Genius) este modo intermédio continua a ser muito útil a subir, aqui na Ransom diria que quase não faz falta pelas razões já mencionadas. A subir, só mesmo se em casos muito extremos de mau piso. Poderíamos ainda subir com o amortecedor completamente “aberto”, e mesmo assim o bombear da suspensão é pouco notório, o que prova a excelência deste sistema, a par do ângulo muito vertical do tubo de selim, que facilitam em muito a pedalada mesmo sem estar nos modos adequados do amortecedor.

Em suma, mesmo que te esqueças de selecionar o modo indicado, podes sempre voltar ao topo da subida com relativa eficácia qualquer que seja o modo. Mas, obviamente, será preferível usar o Climb, seja numa toada relaxada, seja num ritmo digno de XC. A verdade é que a subir não temos a perceção de estar numa bike com tanto curso e com tanta capacidade a descer. Só mesmo a posição de condução um pouco elevada ou os exagerados pneus denunciam esse fato. Durante a apresentação muitos jornalistas escolheram e-bikes para o percurso, mas a Ransom é tão mais divertida a descer e tão eficaz a subir que não me importei de fazer umas “runs” extra com ela.

LIMITES ESBATIDOS
Quando começamos a descer com a Ransom já começa a ser difícil perceber o tipo de bike em que estamos a andar. Por um lado a leveza e agilidade de uma trail, por outro, as capacidades “extreme” de uma bike quase a piscar o olho ao DH. Isto é um pouco o ADN da Ransom, uma bike que em 2006 surgiu no mercado com grande amplitude de uso, sendo muito leve na altura para uma bike de 160 mm de curso e tendo os limites de uso bem alargados tanto para o lado da subida como da descida.

Esta nova geração, que já pouco ou nada partilha com a primeira, mantém esse espírito mas eleva as capacidades hardcore para outro nível. Na apresentação à imprensa, fomos brindados com dezenas de trilhos na zona de Santa Coloma de Farners, não muito longe de Barcelona. Com a ausência de chuva, estavam bastante secos e poeirentos, com zonas de areia solta. Uns mais inclinados que outros, uns mais lisos e alguns com mais raízes dos que as que precisamos! Em suma, muita variedade, onde só faltou lama. E como já lá tinha andado e conhecia relativamente bem dois trilhos, foi nesses que fiz o batismo de voo com a Ransom, aproveitando para ir conhecendo a máquina e fazendo pequenos ajustes em complemento aos que tínhamos feito na garagem.

Foi desde logo notória a agilidade que já mencionei, com a Ransom a entrar e sair bem de curva, apesar da sua longa distância entre eixos. A configuração do cockpit e a posição adiantada que assumimos na bike ajudam a isso. Uma das alterações que fiz logo para a segunda descida foi baixar o guiador, retirando os espaçadores por baixo do avanço e assim conseguir maior precisão nas curvas onde areia se acumulava e onde uma frente alta tende a “pairar” mais…

E à medida que descia era notória a segurança conferida pelo conjunto, quer seja pela estabilidade em altas velocidades, a capacidade de as suspensões absorverem tudo, a potente travagem dos Code Ultimate e a rigidez do quadro de carbono. Atrás, o sistema funciona com bastante sensibilidade aos impactos. A meio do curso sente-se um aumento da progressividade, o que ajuda a bike a manter-se ágil em situações de terreno melhor ou em curva. Faltaria apenas um pouco de progressividade, para evitar um ou outro bottom out no trilho, mas também muito por culpa de altos saltos e drops para flat, bastante violentos. Fora isso o comportamento é exemplar. E em algumas situações, quando os trilhos tinham menos raízes, até era vantajoso rolar com o modo Ramp Control, deixando a bike ainda mais fácil de manobrar e “leve”, com acelerações rápidas e sem se afundar demasiado.
A NOVA RANSOM EM RETROSPETIVA
Numa era em que cada vez mais se vêm e-bikes de Enduro, pois nem toda a gente gosta de “carregar” 18kg montanha acima, é bom saber que existem bikes como esta Ransom. Não seremos os primeiros a chegar ao topo mas, se tivermos unhas, estaremos entre os primeiros a chegar ao fim da descida. É um conjunto leve, equilibrado, com uma geometria muito acertada, ágil e com suspensões que trabalham a fundo para que possamos nós também ir a fundo. Quando a diversão se alia à sensação de controlo, que mais podemos pedir?

OPÇÕES
Como é apanágio da marca, existem várias versões, totalmente ou “parcialmente” em carbono e para homem e mulher. Fica aqui a gama Ransom com as cores disponíveis e os destaques de componentes.
900 RC

Quadro carbono HMX (full carbon); suspensão Fox Float 38 Factory Grip 2 Kashima; amortecedor Fox Float X Nude Factory Evol Kashima; transmissão Sram X0 Transmission Eagle AXS; travões Sram Code Ultimate Stealth, discos 200mm; rodas Race Face Turbine R 30. Peso aproximado: 15.2kg (tubeless e sem kit matchbox).
910

Quadro carbono HMF (triângulo traseiro alu); suspensão Fox Float 38 Performance Elite Grip 2; amortecedor Fox Float X Nude Evol; transmissão Sram Transmission GX Eagle AXS; travões Sram Code RSC Stealth, discos 200mm; rodas Syncros Revelstoke 2.0. Peso aproximado: 15.7kg (tubeless e sem kit matchbox).
920

Quadro carbono HMF (triângulo traseiro alu); suspensão RockShox Zeb Select+ Charger 3; amortecedor Fox Float X Nude Evol; transmissão Sram NX Eagle; travões Sram DB8, discos 200mm; rodas Syncros Revelstoke 2.5 . Peso aproximado: 16.4kg (tubeless e sem kit matchbox).
930

Quadro carbono HMF (triângulo traseiro alu); suspensão RockShox Domain R Solo Air; amortecedor Fox Float X Nude Evol; transmissão Shimano Deore RD M6100; travões Shimano MT520 4 Piston, discos 203mm; rodas Syncros X-30S com cubos Formula CL. Peso aproximado: 16.7kg (tubeless e sem kit matchbox).
Contessa 910

Quadro carbono HMF (triângulo traseiro alu); suspensão Fox Float 38 Performance Elite Grip 2; amortecedor Fox Float X Nude Evol; transmissão Sram Transmission GX Eagle AXS; travões Sram Code RSC Stealth, discos 200mm; rodas Syncros Revelstoke 2.0. Peso aproximado: 15.7kg (tubeless e sem kit matchbox).
Lembramos que a Scott é distribuída em Portugal pela empresa Stand Jasma. Poderás obter mais informações em jasma.pt.