Com mais de metade do traçado à volta de Portugal já concluído, hoje avançámos até Freixo de Espada à Cinta. Tomámos o pequeno almoço entre as arcadas do Convento, num contorno quase tirado de um livro de história. A beleza deste local é simplesmente única e faz-nos mesmo viajar pelo tempo, levando as nossas mentes a imaginar os momentos em que monges e Reis percorriam aquele local.
Já com as energias renovadas, voltámos às bicicletas e seguimos em direção ao Parque Natural do Douro Internacional, considerado ainda hoje, um dos lugares mais inacessíveis de Portugal. Curiosamente, durante anos, chegar até esta região de Portugal era de facto sinónimo de viagens longas e demoradas, uma vez que as estradas eram de má qualidade e a quase inexistência de outros meios de transporte alternativos agravavam a situação. Mas já diz o ditado que “o fruto proibido é o mais apetecido", sendo atualmente visível um crescente interesse por esta maravilha de Portugal. Caracterizado pelos vales profundos de margens escarpadas por onde corre o fronteiriço rio Douro, esta é sem dúvida uma paisagem de aspeto singular e avassalador, com tanto para nos oferecer!
E como o rio Douro é ator principal neste incrível cenário tirado de filme, fomos calmamente descendo o vale até ao seu encontro. Foram 15 longos quilómetros de descida com vistas soberbas até Barca de Alva, uma bonita aldeia situada na margem esquerda do rio, junto à fronteira com Espanha. Pedalámos lado a lado com o rio durante alguns quilómetros, apreciando as cores que dão vida a estas paisagens e seguimos depois, junto a um dos seus afluentes, o ribeiro do Masteiro.
Com sensivelmente 400m de desnível, tivemos depois uma forte subida por uma estrada sem carros. E porque estamos na região dos altos e baixos, característica destes vales “encantados", apanhámos o “Sr. Empeno" à boleia numa nova subida de terra, que nos acompanhou até Poiares. Mais um altos e baixos e chegamos então ao Miradouro de Penedo Durão. Considerado um dos mais impressionantes miradouros da região, na prática este penedo é um grande rochedo sob as ravinas acentuadas de uma das margens do rio Douro.
Daqui é possível desfrutar de amplas vistas sobre as escarpas e as zonas envolventes, sendo possível admirar o curso do rio entre as montanhas. É também um excelente local para observar as grandes aves, nomeadamente as bonitas águias que preenchem os céus com os seus soberbos e dominantes voos. De facto, do alto deste miradouro, avista-se toda a força da natureza em todo o seu esplendor e percebe-se porque é que o Douro ainda tem tanto para oferecer! Simplesmente fantástico!
Continuámos depois até Freixo de Espada à Cinta, talvez uma das vilas mais pitorescas e remotas do interior de Portugal. Com alguma influência espanhola (dada a sua proximidade), é um local fantástico com vários recantos e histórias para descobrir, começando desde logo pelo seu curioso nome que seduz pela sua graça. Percorrer esta terra é descobrir pequenas ruas e casas modestas, decoradas com flores, entre monumentos surpreendentes. Freixo de Espada à Cinta é uma terra de história que não tem fim, um pedaço de património decorado com cheiro a jardim!
É no centro da vila que encontramos alguns dos seus encantos, como o famoso Freixo com a espada à sua cinta, uma grande arvore que tem efetivamente uma espada à sua cintura. Conta a lenda que em tempos, um cristão sozinho que era perseguido por mouros, estava tão assustado e sem qualquer proteção, que, não vendo outra alternativa, pendurou a sua espada na árvore e “camuflou-se" (como quem diz, escondeu-se) entre os ramos. Quando os mouros se aperceberam que a imponente árvore tinha uma espada, pensando que esta tinha ganhado vida, fugiram assustados, poupando a vida ao solitário cristão.
Sem árvore e sem espada, mas com a bravura e a valentia que nos têm levado a pedalar ao longo deste nosso Portugal, hoje ficaremos a descansar na Casa do Conselheiro, uma casa datada do século XV que ainda hoje mantém as suas características originais.