Que etapa! Para além de ter sido a mais longa do Tour nos últimos 21 anos (249,1 km), foi muito movimentada sobretudo devido à veleidade de ciclistas da nova geração como Mathieu Van der Poel e Wout Van Aert, que não poupam esforços para dar espetáculo.
O vencedor da jornada foi Matej Mohoric (Bahrain Victorious), mas Van der Poel e Van Aert ganharam três minutos e meio para os favoritos, abrindo um espaço na classificação geral. Pogacar chegou a estar em apuros, mas conseguiu salvar o dia e Carapaz tentou fazer a diferença. Por seu lado, Primoz Roglic praticamente abortou todas as hipóteses de ganhar o Tour, após ceder quatro minutos. Mas a história desta jornada não acaba aqui...
Os ataques começaram bem cedo, praticamente desde o tiro de partida. Mas tudo ficou em águas de bacalhau quando Van Aert e Van der Poel decidiram entrar numa espetacular fuga que chegou a ter 29 ciclistas com nomes de relevo como Yates, Nibali, Mohoric, Rúben Guerreiro, Asgreen, Nielsen, Andersen, Styen, Gilbert, Konrad, Campenaerts, entre outros.
Esta fuga deixou obviamente a Volta a França de pernas para o ar. Foram mais de 200 km de luta incessante contra um pelotão liderado pela UAE Team Emirates, que tinha obrigatoriamente de assumir a responsabilidade, pois a posição de Pogacar estava em risco. Esse desgaste foi pago mais tarde e veremos se nos próximos dias não surgirão consequências...
Os fugitivos chegaram a ter mais de sete minutos de vantagem, mas aos poucos - devido à sucessão de montanhas pontuáveis - foram perdendo gás. Brent Van Moer, Matej Mohoric (que, lembramos, foi um dos melhores atletas de BTT do seu país) e Jasper Stuyven ficaram na dianteira, tendo no seu encalce Van der Poel, Van Aert, Nibali, Konrad, Cortina, Skujins, Yates, entre outros a cerca de um minuto e o pelotão a mais de seis. Mas na subida mais exigente, tudo mudou.
O desgaste e a dureza da subida (que chegou a ter zonas com 18% de inclinação) dinamitaram a corrida e foi nessa altura que Mohoric deixou para trás Van Moer e Stuyven, seguindo em solitário até à meta. Carapaz, mais atrás, lançou um ataque, distanciando-se do grupo dos favoritos e Roglic, não aguentando o ritmo agoniante, começava a perder tempo. Pogacar, sem ninguém da sua equipa para o ajudar - fatigados do esforço de tentar conter o prejuízo - conseguiu salvar o dia, mas provavelmente perdeu "poder de fogo" nos próximos dias, já que alguns dos seus colegas ficaram visivelmente fatigados.
Van der Poel, apesar de continuar a ser o líder da prova, não vai permanecer até ao fim do Tour, mas lembramos que Van Aert poderá tentar ganhar a Volta a França, dado que o seu chefe de fila - Roglic - perdeu tempo e está longe na classificação geral. Mas será a alta montanha a ditar as regras do jogo e até lá temos de esperar.
A verdade é que a Volta a França está mais aberta e incerta do que nunca. A partir de amanhã, os Alpes passam a fazer parte do "menu" do pelotão. Chegou a hora dos puros trepadores.