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Os bastidores do World Tour

As equipas do escalão máximo do ciclismo profissional são autênticas empresas. Conhece um pouco melhor o fantástico mundo da alta competição.

Revista Ciclismo a fundo

Os bastidores do World Tour
Os bastidores do World Tour

O ciclismo profissional mexe cada vez com mais dinheiro. E no escalão máximo da modalidade, o World Tour, onde só estão equipas com orçamentos avultados (a mais cara tem um budget anual de 47 milhões de euros) e com plantéis com ciclistas de topo.

O World Tour é complexo, tem regras próprias - a título de exemplo, cada equipa tem de pagar uma quantia que ronda um milhão de euros apenas para reservar o seu lugar na lista de equipas de topo e tem, necessariamente, de cumprir o fairplay financeiro, garantindo o pagamento dos ordenados, correndo o risco, se não o fizer, de perder a licença.

Tal como em qualquer equipa, o nome comercial pertence a um clube. Contudo, no escalão World Tour, pertence a uma empresa. É essa empresa que estabelece os contratos com os patrocinadores, ciclistas, pagamento de ordenados, etc.

Numa equipa World Tour, em regra o plantel ronda os 20 e poucos ciclistas e o número de staff ultrapassa os 35. Há equipas com 50 pessoas no staff.

O Staff inclui massagistas, osteopatas, mecânicos, preparadores físicos/ treinadores, cozinheiros, relações públicas, diretores, responsáveis de imprensa, gestores de redes sociais, responsáveis de logística, contabilistas e gestores dos Service Course.

E o que é um service course?

Cada equipa World Tour tem pelo menos um Service Course que é, no fundo, um armazém gigante (uma nave, como chamam os responsáveis das equipas) onde são armazenados os camiões, autocarros, veículos ligeiros, bicicletas e componentes e toneladas de acessórios suplentes. Se a equipa acaba uma prova e não tem outra logo a seguir, em regra toda a logística vai para o Service Course.

Quantos veículos tem uma equipa World Tour?

Depende, mas em regra, cada equipa tem dois ou três autocarros - dois deles de grande dimensão e outro mais pequeno -, dois camiões/oficina grandes e um mais pequeno, carrinhas de transporte (geralmente três) e ainda cerca de 10 a 18 carros ligeiros, mas de grande cilindrada. Porquê? Porque as equipas costumam fazer viagens longas, muitas delas em autoestrada e são necessários carros potentes para transportar a logística.

No caso dos autocarros, todos eles são completamente alterados logo que são comprados, sobretudo no interior dos mesmos. O objetivo é proporcionar mais conforto aos ciclistas e staff, bem como conferir mais polivalência ao espaço disponível. Os autocarrros modernos têm cerca de 8 a 12 bancos rebatíveis (para os ciclistas poderem descansar após cada etapa), acesso a tomadas (para carregamento de telemóveis ou outros aparelhos), compartimentos individuais para guardar acessórios privados, e na parte traseira há sempre duas casas de banho individuais, chuveiros (dois ou quatro), cozinha (para preparar refeições rápidas, caso a ligação entre a etapa e o hotel/aeroporto seja demorada) com micro-ondas, frigorífico, fogão e armários repletos de snacks, barras, isotónicos, fruta, refeições rápidas, etc, bem como uma zona de arrumos e uma sala privada nas traseiras para reuniões, para os ciclistas se deitarem, caso queiram ou para fazer curativos.

Estes autocarros também possuem, obviamente, palas para tapar os ciclistas e staff do sol/chuva (quando estão à espera do início da etapa ou para aquecer antes de um contrarrelógio). Nas laterais dos autocarros (dentro dos compartimentos) há sempre um acumulador (para a água dos duches), um mega gerador de alta potência, máquinas de lavar e secar roupa, rolos de treino, cadeiras, toalhas, suplementos, águas com fartura e um kit de limpeza do autocarro (em competição, os autocarros são lavados todos os dias, tal como todos os veículos da equipa).

No caso dos camiões/oficina, estão devidamente equipados com suportes para bicicletas, rodas, componentes e todos trazem um compartimento com uma mini-cozinha, que inclui frigoríficos e alimentação para os mecânicos. As máquinas de lavar a alta pressão, as ferramentas e os cavaletes (de oficina) são imprescendíveis.

No caso das viaturas ligeiras (geralmente as chamadas station-wagon), são escolhidas com bastante espaço (tanto para ciclistas como staff), pois como é necessário transportar no banco traseiro rodas suplentes, uma mala completa com ferramentas, bidons, suplementos, uma arca com bebidas frescas e a alimentação de quem segue nessa viatura, o espaço e o conforto são as premissas principais.

Para além dos suportes de bicicleta na parte superior dos carros, as equipas World Tour levam sempre uma arca na mala do carro com mais bidons e bebidas com isotónicos e nunca falta junto ao passageiro (ao lado do condutor) um termo com café, bem como copos de plástico.

Os carros incluem o Rádio Volta (um aparelho que permite receber informações da corrida, como quedas, desistências, chamadas de atenção e mesmo solicitações de apoio quando um ciclista pede e o Radio Volta se apercebe). Para além disso, cada carro tem um sistema próprio (outro auto-rádio) que visa a comunicação com os ciclistas (todos os ciclistas usam um rádio de comunicação com os diretores). É por isso que vemos até quatro antenas de grande alcance neste tipo de carros.

Além disso, é normal estes carros estarem equipados com um pequeno ecrã que permita acompanharem as incidências da corrida. Para além dos dois carros que acompanham as etapas (equipadas com as bicicletas suplentes dos ciclistas), mais carros fazem parte da comitiva. Um geralmente faz o reconhecimento do percurso antes da etapa dando indicações do estado da estrada, da direção do vento, de eventuais zonas perigosas, etc. Outros seguem para as zonas de abastecimento. Há também uma carrinha com arca frigorífica que ao mesmo tempo que a etapa decorre, compra produtos frescos para as refeições seguintes. Há até equipas que têm um camião/cozinha, onde são preparadas as refeições.

Tudo feito ao detalhe e seguindo uma agenda e calendário pré-estabelecida e onde todos sabem o que têm de fazer.

23 equipos confirman su interés en tener licencia World Tour 2020-2022

 

 

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